sexta-feira, 25 de maio de 2012

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Os meus sonhos troçam de mim, o meu subconsciente conta-lhes tudo sobre mim, contam-lhe tudo o que eu nego todos os dias.

Sem pudor ou compaixão jogam-me todos os meus defeitos e falhanços à cara, chamam-me de gorda, de feia, repugnante. Gritam-me aos ouvidos que ninguém me pega.

Que nem o meu melhor amigo me pegou. Ou melhor. Pegou mas largou de imediato, como se tivesse apercebido que transporto algum cheiro nojento e que venho com defeito de fabrico.

E é nos sonhos que não consigo mentir, não consigo rir e mentir que não preciso de ninguém para ser feliz, que não preciso de ninguém para me chatear.

A verdade é que me sinto incrivelmente sozinha, rejeitada, enjeitada, jogada para um canto como uma peúga velha.

Sou infeliz, deprimente, gorda, surda, bebo e fumo para me matar devagarinho. Porque por medo ou preguiça não o faço eu mesma.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Demorou...

E passaram meses, dias e horas a uma velocidade parva para os leigos, porque para mim passou a uma lentidão surreal.
Parece que demorou tanto a tempo. Tanto. E ainda me dói.

Demorou tanto tempo para que metesses conversa comigo, demorou tanto tempo para que começasse a desabafar contigo as minhas inseguranças e e devaneios. E os trambolhões que dava às mãos cheias. Demorou tanto tempo para que nos encontrássemos e para que me beijasses. Demorou tanto para darmos nome ao que não tinha explicação. Demorou tanto confiar em ti. Demorou tanto gostares de mim. Demorou tanto gostar de ti. Demorou tanto as conversas sem sentido às tantas da manhã. Demorou tanto um abraço. Demorou tanto um beijo. Demorou tanto "É por causa do sol". Demorou tanto "Eu amo-te". Demorou tanto "Deixas-me com um quentinho no coração". Demorou tanto, baixinho para ninguém ouvir, "Também te amo". Demorou tanto "Nunca te vou magoar". Demorou tanto "Queres voltar para ela?". Demorou tanto. Tanto. Tanto.

E doeu ainda mais pois foi só a mim que doeu. Porque no final fui eu que fiquei sozinha. Sem "Nunca te vou magoar", sem "Amo-te", sem "É por causa do sol", sem abraço. Sem nada.

E ainda dói, dói menos. Mas ainda dói. Sobretudo porque fui tão fácil de ser apagada da tua memória e porque tudo o que eu disse e fiz para ti não significaram mais que uma pedra na calçada. E é por isso que ainda me dói. Um poucochinho. Uma coisinha de nada. Mas dói.

Triste sorte a minha. Apaixonar-me pelo melhor amigo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Meu "É Complicado" no Facebook

Ontem liguei-te e não me voltaste a atender, não tenho razões para estar chateada, falamos quase duas horas umas três vezes por semana, sem falar dos telefonemas rápidas, das mensagens de boa noite. Não tenho motivo algum para ficar aborrecida só porque não me atendes telemóvel. Mas fico. E odeio sentir-me assim. Não devia e é injusto. Para ambos. E quase sem me aperceber acabo por te atacar com sarcasmo cheio de raiva, que me deixa triste e a ti também. Mas não sei, por alguma razão me irrito quando ficas dias. DIAS. Sem me responder a um telefonema ou uma mensagem. Talvez me preocupe demasiado porque és demasiado importante para mim. E não tenho vontade alguma de te perder. 

Acima de tudo gosto bastante de ti. Na medida certa. Na quantidade que ambos precisamos. E acho que é por isso que a nossa amizade resulta. Porque não te deixo bater com a cabeça na parede e a deixo descansar no meu colo. E porque tu ouves os meus devaneios idiotas e me reconfortas e fazes rir.

Resumidamente porque és o meu "É Complicado" no Facebook. E é por isso que resultamos tão bem.

Adoro-te FF.





Patrícia Guerreiro


(Continuo FURIOSA por não me atenderes o telemóvel!)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Culpa No Tabaco

A estrutura verde e metálica da ponte sempre a fascinaram, quase todos os dias caminhava pela passagem para peões junto à amurada até chegar a meio, de onde olhava o rio.

Mas este dia tinha algo de diferente, de definitivo.

Descansou os cotovelos nos apoios da ponte e olhou novamente o rio, não conseguiu evitar uma gargalhada sem razão aparente.

Retirou o maço de tabaco amarfalhado do bolso, com o último cigarro quase dobrado, jogou a embalagem já vazia ao rio e prendeu o cigarro entre os lábios rosados enquanto procurava o isqueiro.

Acendeu o cigarro e tragou profundamente fechando os olhos, só os abriu para ver o fumo a dançar à sua frente, os olhos verdes brilharam de satisfação... Seria?

Tragou de novo, o alcatrão a queimar-lhe a garganta como a dor que a queimava à tanto tempo como o vício, a nicotina anestesiava-lhe o sofrimento de certa forma, nunca totalmente. Nem lá perto.

Um novo sorriso rasgou-lhe a face sem aviso, sem sanidade, sem sentido algum.

O cigarro quase a chegar ao fim, quase a queimar a marca, cada vez mais perto da sua resolução.

Prendeu o cigarro entre o indicador e o dedo do meio depois de uma última tragada, já pouco mais que o filtro, e purrou a barra de segurança, durante instantes segurou-se com a mão livre.

Largou a barra e deixou-se cair, o cigarro fugiu-lhe dos dedos mas ela nem deu por isso, a sua mente já estava bem longe, nem ela a conseguiria voltar a alcançar. Mas era esse o objectivo.

E Ela já não era mais ela, era o rio, era água, era nada, só escuridão.

O Cigarro caiu depois, flutuou um pouco como que gritando que ela estivera ali, que ninguém lutara por ela, que ninguém reparara nela nem queria saber dela.

O Cigarro era uma acusação. A Culpa. Toda a Raiva acumulada.

Patrícia Guerreiro