quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Meu "É Complicado" no Facebook

Ontem liguei-te e não me voltaste a atender, não tenho razões para estar chateada, falamos quase duas horas umas três vezes por semana, sem falar dos telefonemas rápidas, das mensagens de boa noite. Não tenho motivo algum para ficar aborrecida só porque não me atendes telemóvel. Mas fico. E odeio sentir-me assim. Não devia e é injusto. Para ambos. E quase sem me aperceber acabo por te atacar com sarcasmo cheio de raiva, que me deixa triste e a ti também. Mas não sei, por alguma razão me irrito quando ficas dias. DIAS. Sem me responder a um telefonema ou uma mensagem. Talvez me preocupe demasiado porque és demasiado importante para mim. E não tenho vontade alguma de te perder. 

Acima de tudo gosto bastante de ti. Na medida certa. Na quantidade que ambos precisamos. E acho que é por isso que a nossa amizade resulta. Porque não te deixo bater com a cabeça na parede e a deixo descansar no meu colo. E porque tu ouves os meus devaneios idiotas e me reconfortas e fazes rir.

Resumidamente porque és o meu "É Complicado" no Facebook. E é por isso que resultamos tão bem.

Adoro-te FF.





Patrícia Guerreiro


(Continuo FURIOSA por não me atenderes o telemóvel!)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Culpa No Tabaco

A estrutura verde e metálica da ponte sempre a fascinaram, quase todos os dias caminhava pela passagem para peões junto à amurada até chegar a meio, de onde olhava o rio.

Mas este dia tinha algo de diferente, de definitivo.

Descansou os cotovelos nos apoios da ponte e olhou novamente o rio, não conseguiu evitar uma gargalhada sem razão aparente.

Retirou o maço de tabaco amarfalhado do bolso, com o último cigarro quase dobrado, jogou a embalagem já vazia ao rio e prendeu o cigarro entre os lábios rosados enquanto procurava o isqueiro.

Acendeu o cigarro e tragou profundamente fechando os olhos, só os abriu para ver o fumo a dançar à sua frente, os olhos verdes brilharam de satisfação... Seria?

Tragou de novo, o alcatrão a queimar-lhe a garganta como a dor que a queimava à tanto tempo como o vício, a nicotina anestesiava-lhe o sofrimento de certa forma, nunca totalmente. Nem lá perto.

Um novo sorriso rasgou-lhe a face sem aviso, sem sanidade, sem sentido algum.

O cigarro quase a chegar ao fim, quase a queimar a marca, cada vez mais perto da sua resolução.

Prendeu o cigarro entre o indicador e o dedo do meio depois de uma última tragada, já pouco mais que o filtro, e purrou a barra de segurança, durante instantes segurou-se com a mão livre.

Largou a barra e deixou-se cair, o cigarro fugiu-lhe dos dedos mas ela nem deu por isso, a sua mente já estava bem longe, nem ela a conseguiria voltar a alcançar. Mas era esse o objectivo.

E Ela já não era mais ela, era o rio, era água, era nada, só escuridão.

O Cigarro caiu depois, flutuou um pouco como que gritando que ela estivera ali, que ninguém lutara por ela, que ninguém reparara nela nem queria saber dela.

O Cigarro era uma acusação. A Culpa. Toda a Raiva acumulada.

Patrícia Guerreiro